No princípio era harmonia. Chuvia.
Mal sabia o teu nome, não sabia como eras, era-me completamente desconhecida a tua forma de ser. Interessava-me o facto de as conversas contigo não serem banais. Não eram o tipo de conversas que toda a gente tem com alguém que acabou de conhecer "Olá, tudo bem? Fala-me de ti. Diz-me o que gostas de fazer. Gostas disto? Gostas daquilo? A sério?! Eu também!".
- Está a chover. Adoro chuva.
Incrível como a chuva marcou uma das melhores fases da minha vida: o teu aparecimento quase como que um anjo caído do Céu. Aos poucos ias-te tornando especial, cada vez mais especial.
Lembro-me de uma noite em que as estrelas estavam apagadas e chuvia ligeiramente, não aquela chuva que faz um barulho ensurdecedor ao bater nos vidros das janelas, chuvia agradavelmente. Como já é meu hábito, desde pequena, sentei-me à janela, encostei-me aos vidros e continuei a falar contigo através do telemóvel que está agora em tuas mãos. Era como se ali estivesses comigo a sentir a chuva bater suavemente nos vidros da janela do meu quarto, apreciando a noite escura, o Céu sem estrelas... Eu queria que ali estivesses.
Ao pôr a mão sobre o vidro sentia-te, era como se a tua mão estivesse do outro lado a tocar a minha e só a janela as separasse. Para mim, naquele momento, tu eras a chuva. Apetecia-me abrir a janela e sentir a chuva bater-me ao de leve no rosto, como se fosse a tua mão a acariciar-me.
Ontem choveu.
Voltei a sentar-me à janela e fazer exactamente a mesma coisa que fiz naquele dia. As coisas mudaram. Sei bem o teu nome e todos os nomes novos que eu te dei, sei exactamente aquilo que és, conheço-te melhor do que ninguém.
No entanto, houve uma coisa que não mudou. Continuei a desejar que ali estivesses. Continuei a sentir-te ao pôr a minha mão sobre o vidro, e era como se a tua mão estivesse do outro lado. Continuavas a ser a chuva. E não houve nada que eu quisesse mais a não ser abrir a janela e sentir a chuva bater-me no rosto, como se fosse a tua mão a acariciar-me.
No princípio era harmonia. Agora é o amor.
O copo passou de meio vazio para meio cheio, tudo culpa tua. OBRIGADA!