(Vou contar-vos um pedaço de História verídica, nada inventado aqui na minha cabeça. Esta História conta com duas personagens: a Ele vou chamar-lhe de Amor, a Ela vou chamar-lhe de Paixão.)
Luz. Faltava pouco menos de cinco minutos para as sete e um quarto da tarde. O Amor sabia que a Paixão estava perto dele. Procurava-a loucamente, desesperadamente por entre a multidão. A Paixão também sabia que o Amor estava à sua beira, mas pouco ou nada podia fazer. Restava-lhe esperar que o Amor a encontrasse. Tinham passado cerca de dezassete minutos das sete e um quarto, os ânimos davam vida àquele gigantesco lugar e o Amor tinha encontrado a Paixão, lá tão longe, mas ali tão perto...
Nesse momento a Paixão ouviu uma vozinha, vinda do seu mais profundo imaginário, que teimou em segredar-lhe ao ouvido "Vira-te para trás, por favor, vais encontrar o Amor!". Por entre as dezenas de pessoas que se encontravam a rodeá-la, a Paixão tentou encontrar alguém que se parecesse com o Amor.
Encarnado. Era a cor que permanecia na multidão que festejava alegremente e com emoção o que ali se passava. Uns de caras pintadas de branco e vermelho. Outros com chapéus, bonés ou gorros na cabeça. Todos eles tinham cachecóis. Uns usavam-no ao pescoço, outros esticavam-no para que se pudesse ler o que neles dizia, outros agarravam-lhes nas pontas e rodavam-nos euforicamente.
Com tanta algazarra, era quase impossível que a Paixão encontrasse o Amor. Os seus olhos já estavam tontos e tristes de tanto procurar por quem parecia estar escondido. Pensou desistir. Quando se preparava para desistir e voltar o seu corpo cansado para a frente, os seus olhos avistaram a perfeição: a Paixão encontrara o Amor.
Nesse momento foi como se toda a multidão que os rodeava e separava tivesse desaparecido. As luzes, a cor predominante, a euforia, a emoção concentraram-se apenas no Amor e na Paixão. O Amor olhava para a Paixão como olhara da primeira que a viu, com intensidade e adoração. Mais nada existia para ele naquele momento. A Paixão fixava-lhe o olhar e fazia o que de melhor sabia fazer para ele: sorrir. Os seus olhares desviaram-se e a eufórica multidão regressou.
Tudo isto se passou numa fracção de segundos. Os seus intensos, apaixonantes segundos.